A primeira vila do mundo especializada em pessoas com demência severa se encontra na Holanda, denominada Vila Hogeweyk, já é um modelo referência para outras vilas com a mesma estrutura espalhadas pelo mundo. Hoje nós iremos garantir que você não apenas conheça a Vila, mas também entenda qual é o diferencial desse espaço, qual a filosofia adotada e a estrutura para que o trabalho seja pioneiro mundialmente para o trabalho sensibilizado com pessoas com quadro de demência.
Instalada em Weesp, uma cidadezinha charmosa nos arredores de Amsterdã, a Vila Hogeweyk foi pensada para ser muito mais do que um centro de cuidados: ela é, literalmente, uma vila, com supermercado, praça, restaurante, teatro e até cabelereiro. Tudo isso é construído de forma que os moradores — todos com demência em estágio avançado — possam viver com o máximo de normalidade, dignidade e autonomia possíveis. Parece sonho? Pois é real, e a gente vai te contar como isso funciona na prática!
O que é a Vila Hogeweyk?
Imagine um bairro onde os moradores convivem normalmente, mesmo quando enfrentam demência severa. Esse é o espírito da Vila Hogeweyk, na cidade de Weesp (Holanda). Inaugurada em 2009 após anos de planejamento, a Hogeweyk foi idealizada pelo Vivium Care Group – liderado por Jannette Spiering, Eloy van Hal e Yvonne van Amerongen – que desde a década de 1990 questionava o modelo “hospitalar” dos asilos tradicionais. O resultado foi um modelo disruptivo de atendimento: ao invés de um ambiente clínico, Hogeweyk oferece “vida normal” para idosos com demência, centrada nas possibilidades e preferências de cada um.
A área comum da vila lembra um parque de cidade pequena, com bancos, chafariz e moradores conversando – tudo para parecer um cenário cotidiano. A ideia nasceu de profissionais de saúde que trabalhavam em lares de idosos convencionais e queriam um ambiente mais familiar. Em 1993, Spiering, van Hal e Amerongen passaram a planejar uma “pequena cidade” com casas decoradas por estilo de vida e comércio local, onde o cuidado seria integrado à rotina diária.
Após 16 anos de refinamentos, a Hogeweyk abriu suas portas em dezembro de 2009, patrocinada pelo governo holandês e pelo próprio Vivium. A cada passo do projeto, arquitetos (do escritório Molenaar&Bol&VanDillen, hoje Buro Kade) e cuidadores buscavam desinstitucionalizar o cuidado, tratando os idosos como cidadãos de um bairro comum, com cuidadores que são como simples cidadãos da vila.
A vida cotidiana (e extraordinária) dos moradores
No Hogeweyk não há rotina fixada em relógios: cada morador participa de atividades que façam sentido para ele. Os idosos ajudam nas tarefas de casa (cozinhar, limpar) conforme suas habilidades, sempre com suporte discreto de cuidadores. Eles podem ir ao mercadinho da vila fazer compras, levar o carrinho sob supervisão, e até aproveitar um café ou bar interno, como em qualquer bairro. Essa autonomia controlada estimula a independência: ao invés de horas vagas, cada dia é preenchido com afazeres familiares. Os espaços são todos preparados para isso – corredores largos, sinalização clara e bancos nas áreas públicas garantem mobilidade segura a todos.
Em cada casa residem apenas 6–8 pessoas com gostos de vida semelhantes (por exemplo, “urbano”, “artesão” ou “cristão”), acompanhadas de dois cuidadores dedicados por plantão. Esses profissionais vestem roupas comuns (sem uniformes médicos) e assumem papéis normais no bairro – a enfermeira pode servir café ou cortar o cabelo dos moradores como uma cabeleireira.
Essa continuidade (muitos cuidadores e sempre os mesmos rostos) faz com que cada cuidador conheça profundamente os hábitos de seu grupo, respeitando a individualidade de cada idoso, assim, “aqui os doentes têm uma vida normal dentro do mundo criado pela mente deles”, diz a diretora da vila, que cuida para que cada rotina reflita as preferências de seus moradores.
Além das tarefas domésticas, a Hogeweyk oferece dezenas de opções de lazer. São cerca de 25 clubes e atividades internas – de cinema a oficinas de música – e eventos coletivos na praça, onde moradores se reúnem para conversar e exercitar habilidades sociais. Por exemplo, há clubes de arte, jardinagem, dança e até pesca em um lago artificial. Cada atividade conecta os residentes com interesses de longa data, reforçando a sensação de comunidade. Conforme observa a equipe de cuidadores visitantes, “quando se foca no que as pessoas ainda podem fazer, isso leva à maior qualidade de vida possível para os moradores” . De fato, encontros como esses ajudam a combater o isolamento e transformam o dia a dia em algo significativo.
Benefícios para saúde e bem-estar
Embora ainda faltem pesquisas científicas formais comparando diretamente Hogeweyk a outros métodos de cuidado, diversos indícios apontam para ganhos reais no bem-estar dos moradores. Estudos gerais mostram que residências menores e design caseiro podem reduzir sintomas como ansiedade e depressão, além de diminuir internações hospitalares. No caso de Hogeweyk, dados internos relatam resultados positivos: os idosos tendem a manter o estado funcional por mais tempo e usam bem menos medicação psicotrópica do que em lares tradicionais, segundo a diretora Iris van Slooten, muitos moradores chegam aos últimos dias de vida extremamente ativos e sem grande sofrimento físico – em média ficam apenas quatro dias acamados antes de falecer.
Esse perfil indica maior estabilidade de saúde e foco na qualidade de vida até o fim. Mesmo sem ensaios clínicos definitivos, todas essas evidências práticas sugerem que viver em um ambiente normalizado ajuda as pessoas com demência a se sentirem mais seguras, ativas e satisfeitas.
Arquitetura e filosofia de cuidado
Toda a estrutura da Hogeweyk reforça o caráter “não-institucional” da vila. O conjunto ocupa cerca de 3,7 hectares e lembra uma pequena cidade holandesa tradicional. Não existem alas clínicas visíveis: o espaço é dividido em casas temáticas (com estilos do passado), intercaladas por lojas, um supermercado, cafés, cabeleireiro, restaurante, teatro e até uma praça central com banco e chafariz. Ruas são apenas para pedestres, jardins convidam a caminhadas, e até o portão de saída é monitorado discretamente para garantir segurança – muitos residentes nem percebem que estão “presos” em uma área segura. Tudo foi desenhado para ser familiar: pisos antiderrapantes, corrimãos, sinalização com símbolos simples e cores suaves minimizam confusões e acidentes. Na prática, as estruturas da Hogeweyk são “testadas” para manter o máximo de autonomia possível, criando um ambiente que sela proteção e, ao mesmo tempo, preserva a dignidade e independência dos moradores.
Por fim, mais importante que a arquitetura é a filosofia humana que a guia. No Hogeweyk, cada residente é tratado como pessoa antes de qualquer coisa. A equipe procura conhecer a história de vida de cada idoso para adaptar o dia a dia: permitir que ele continue ouvindo suas músicas favoritas, cuidando de hobbies antigos e mesmo desfrutando de pequenos prazeres (como fumar, se sempre foi um hábito) sem julgamentos. Cuidadores não impõem regras rígidas; ao contrário, dedicam tempo a sentar junto com o morador, tomar um café na varanda e ouvir suas histórias. Cada gesto simples como esse reforça o respeito pela autonomia individual.
Assim, ao unir um ambiente arquitetônico acolhedor com uma abordagem centrada na pessoa, o Hogeweyk cria um lar onde o que importa é o presente de cada um – promovendo bem-estar, inclusão e alegria de viver a cada dia.
Se você, assim como a gente, acredita em um envelhecer mais digno, afetivo e cheio de possibilidades, vale conhecer o trabalho do Terça da Serra — a maior referência no Brasil quando o assunto é cuidado qualificado para idosos. Com unidades que acolhem com carinho e respeito, nós mostramos que é possível reinventar a forma como olhamos para a velhice. Afinal, todos merecem viver com autonomia, afeto e propósito — em qualquer fase da vida.
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Fonte: www.estadao.com.br/saude/conheca-bairro-vila-para-pessoas-com-demencia-na-holanda