O ano é 2025, mais uma expectativa sobre o que é que o Ministério da Educação (MEC) prepara para surpreender os candidatos que irão prestar o Exame Nacional de Ensino Médio (ENEM) e todos nós somos surpreendidos, pois diferente dos últimos anos, esse ano não é momento para falar de desafios, mas sim falar de “perspectivas” acerca do envelhecimento na sociedade brasileira. O que é que podemos esperar do Brasil? Das políticas públicas? Da sociedade como um todo? Da construção social do olhar para o envelhecimento? Hoje, no blog do Terça da Serra, nós iremos abordar sobre o impacto que essa redação teve não apenas nos candidatos que prestaram a prova, mas na nossa sociedade em geral, e deixar (claro!) a nossa opinião sobre as perspectivas que nós enxergamos para o envelhecimento no Brasil.
Inicialmente é importante contextualizar que na edição de 2024, entre 4,3 milhões de inscritos no ENEM, 76,7% tinham até 20 anos, ou seja, uma esmagadora maioria está inserida na Geração Z e esse é um dado muito importante: compreender quem está sendo mais “impactado” de forma direta pela necessidade de estruturar, pensar, debater e argumentar sobre essa proposta de forma clara e consciente.
Embora esse seja um tema para ser discutido em todas as gerações, independente da idade, devemos levar em consideração que a Geração Z tem algo de peculiar: é a primeira geração nativa digital, impactada diretamente pela nova construção de ética e moral social, com base em informações extraídas da internet, sem o compromisso com a sua veracidade. Quando falamos sobre perspectivas do envelhecimento, pensando em uma geração ainda jovem, esse não é o tema mais “comum” entre as rodas de conversa, embora seja necessário.
A linguagem digital da geração Z e o contraste com a experiência do envelhecimento
Hoje temos instaurado mundialmente uma cultura de admiração a juventude, onde os procedimentos estéticos se tornam cada vez mais populares, mais invasivos e em alguns casos, até mais perigosos, para ser possível manter o status social da juventude. Sendo assim, embora falar de envelhecimento seja importante em todas as etapas da vida, devemos compreender o motivo desse tema ser ainda mais importante, necessário e urgente para a Geração Z: o processo de amadurecimento para o mundo do trabalho, em especial.
De forma breve, não podemos deixar de contextualizar as particularidades da Geração Z que serão importantes para discorrer sobre esta análise:
- Para Jean M. Twenge, em seu livro iGen (2017) ela trata da Gen Z como “iGeneration”: a primeira geração a chegar à adolescência com o smartphone difundido, e defende que há diferenças significativas em relação aos Millennials e outras gerações anteriores. são mais individualistas, priorizam propósitos pessoais, demoram mais a “crescer” segundo marcos tradicionais (casamento, sair de casa, carreira estável) — ou seja, vivem uma “vida mais lenta” (slow life) que os antecessores.
- Para Eliza Filby, em livro Generation Shift (2023) ela explora como a Gen Z (junto à pandemia e à tecnologia) está provocando rupturas nas atitudes sobre trabalho, tempo, valores, em comparação com gerações anteriores. A Gen Z não só faz as coisas “diferente” (por exemplo, no trabalho, na mobilidade de carreira) como reacende tensões com as gerações que vieram antes sobre expectativas, normas, lealdades.
Sendo assim, como é que essa nova geração entende o processo de envelhecimento? Com certeza esse não é um dos temas mais trabalhados ainda, visto que o envelhecimento ainda é um tema que necessidade de maior avanço na discussão dentro das escolas, espaços de convivências e principalmente oferecer uma perspectiva intergeracional.
Diante da linguagem digital da Gen Z fica uma provocação: qual é a construção de envelhecimento que tem influenciado essa geração nas redes sociais?
Os desafios do envelhecimento nos tempos atuais
Hoje a ação de Performativity faz com que muitas pessoas se tornem aquilo que elas performam, onde todos os nativos digitais, aderentes ou não dessa cultura, aprendem que para sobreviver nas redes sociais é preciso performar, em muitos casos, para “existir socialmente”.
Essa ideia garante que todos são donos das próprias narrativas de vida e diante do avanço de uma sociedade inserida em um sistema capitalismo já há algum tempo instalado, as normas morais e éticas começam a se difundir em contraponto ao individualismo, onde hoje é possível verificar que o “certo” e “errado”, nas redes sociais, pode simplesmente depender do ponto de vista. Cada vez mais estamos menos preocupados com as causas sociais, com a luta dos direitos humanos, mas será que foi isso que os jovens da Gen Z escreveram nas suas redações do ENEM?
O mais interessante do impacto desse tema na redação do ENEM é convocar todos os jovens, não apenas, claro, mas em especial, para argumentar, debater e discorrer sobre o que é que pensam sobre o envelhecimento, o seu e o de todas as pessoas do país, quais são as expectativas e, em especial, como é que entendem esse processo.
É claro que o envelhecimento deve ser discutido de forma intergeracional por todas as pessoas, mas o principal foco da discussão desta matéria é o impacto direto na geração que está mais sujeita a distorcer a imagem do que é o processo de envelhecimento, diante das bases criadas em conceito de imagem, de performance, de visibilidade e parâmetros de medição de afeto através das redes sociais (maior alcance, maior número de likes, mais comentários, etc.).
O papel da escola e do ENEM na formação cidadã
Diante desse cenário, será que os jovens ainda são capazes de analisar o envelhecimento não como um direito garantido, mas sim como um privilégio adquirido por poucos? Envelhecer não é o mesmo que sobreviver ao longo dos anos, envelhecer é um processo do avanço da idade, mas sobreviver não é uma escolha, é uma luta diária para viver mais um dia, para tentar alcançar uma qualidade de vida ainda tão pouco acessível para a maioria.
Será que os jovens são conscientes da importância de combater o idadismo, da importância da mudança da placa preferencial que representa a pessoa idosa? Será que são capazes de compreender o motivo da mudança de nomenclatura de “idoso” para “pessoa idosa”? Essas são muitas as dúvidas que trazemos como provocações para que, cada leitor, também reflita sobre o seu papel na formação de cada cidadão, em especial os mais jovens, e na sua concepção sobre o envelhecimento.
É interessante levantar aqui uma provocação filosófica: uma criança, um adolescente ou um jovem que está aprendendo com você sobre envelhecer, o que é que ele sente? Medo, orgulho, ansiedade, repulsa? E nós, enquanto pessoas com mais de 20 anos, de gerações anteriores, como é que nós estamos avaliando as perspectivas do envelhecimento na sociedade brasileira? Qual é o nosso papel e a nossa responsabilidade para garantir que sejam perspectivas positivas e transformadoras?
O tema do ENEM é um convite para pensarmos enquanto sociedade
Independente da idade e da geração que cada um faz parte, o ENEM nos convida a refletir sobre qual é o nosso papel na sociedade que nós estamos construindo e deixando para as novas gerações. Por aqui, no blog do Terça da Serra, nós somos mais do que defensores dos direitos da pessoa idosa, somos portadores de diferentes informações para garantir a disseminação de conhecimento sobre esse e muitos outros temas.
Se você gosta de entender melhor sobre envelhecimento, entender qual é o papel de um Residencial Sênior, acesse as outras matérias aqui do blog e mergulhe em conteúdos que revelam como o envelhecimento pode ser vivido com mais autonomia, dignidade e sentido.
