A tecnologia cada vez mais vem ganhando espaço no cotidiano das pessoas, os humanoides já são uma realidade que coabita o nosso mundo, e o robô Paro é um auxiliar no cuidado e na manutenção emocional da pessoa idosa. O Paro tem se apresentado, em muitos espaços de cuidado, como um aliado sensível: um filhote de foca que responde ao toque, ao som e ao olhar, capaz de acalmar, convidar ao afeto e abrir janelas de conversa em que antes havia silêncio. Para quem vive com demência ou para quem enfrenta dias de ansiedade e solidão, o encontro com o PARO pode significar minutos de conforto real — pequenas pausas onde a agitação cede e a expressão afetiva reaparece.
Para nós do blog do Terça da Serra, ficam várias perguntas: qual é o limite entre o cuidado humano e o cuidado robotizado? Como fica a questão da bioética do cuidado? Qual é o futuro desse cenário? Todas essas perguntas serão desbravadas aqui no blog de forma aprofundada.
Quem é o Paro? Como ele funciona?
A tecnologia entrou discretamente nos espaços de cuidado: o que era antes apenas toque e voz humana agora divide lugar com dispositivos que simulam presença e resposta. O PARO surge nesse cenário como um exemplo claro — um robô terapêutico em forma de filhote de foca, macio, sensorialmente responsivo: percebe toque, reage a sons, movimenta a cabeça e emite vocalizações, tudo para estimular interação e conforto.
Mas como definimos esse encontro? É um brinquedo sofisticado, um dispositivo médico, ou uma ponte afetiva que facilita a fala e a lembrança? Como apresentamos o PARO para quem vive com demência sem criar confusão ou falsas expectativas?
O Paro é um robô terapêutico em forma de filhote de foca (harp seal), feito para ser macio e acolhedor ao toque — pelagem sintética, aparência “fofa” e olhos que buscam contato visual. Mede cerca de 57 cm e pesa por volta de 2,5–2,7 kg, com acabamento antibacteriano na pelagem nas versões profissionais.
Por dentro e no comportamento, PARO tem vários sensores (toque/tátil espalhado pela pelagem, luz, som/audição, temperatura e postura) e microfones que lhe permitem reagir a afagos, sons e ser “ensinável” — ele mexe a cabeça, move a cauda, abre/fecha os olhos, emite vocalizações parecidas com as de uma foca bebê e pode aprender respostas a interações que lhe dão feedback positivo. Foi projetado para procurar interação social, aconchego e regulação emocional em contextos clínicos e de cuidado.
Quanto aos efeitos, há evidências de que, quando usado de forma estruturada e mediada, o PARO pode reduzir agitação, melhorar humor, aumentar expressão emocional e promover interações sociais — especialmente em pessoas com demência —, mas os resultados são heterogêneos (alguns estudos mostram efeitos semelhantes aos de um peluche) e dependem muito de como, por quem e com que objetivo o robô é introduzido.
Paro e a bioética do cuidado: limites e desafios
Entrar num quarto com PARO é entrar num território onde o afeto e a técnica se encontram — e, por isso, onde a ética se faz presente em cada gesto. O filhote robótico não chega como substituto, chega como interlocutor silencioso: um corpo macio que convida ao toque, olhos que parecem responder e um rumor de vocalizações que abre pequenas frestas para a memória e a fala. Mas esse encontro levanta também perguntas que não podem ficar só no campo da tecnologia: quem colocamos diante do Paro? Com que palavras o apresentamos? E como garantimos que o conforto oferecido seja de fato digno e não uma forma frouxa de consolo às pressas?
O primeiro passo ético é o do consentimento. Quando há clareza, pedir autorização é gesto de respeito; quando a cognição falha, o que vale é a sensibilidade — observar assentimentos, recuos, sinais de prazer ou de desconforto. A transparência é outro fio de ouro: chamar aquilo de “robô terapêutico” e evitar qualquer linguagem que engane ou infantilize preserva a autonomia da pessoa e a sua capacidade de ser ouvida como sujeito. Há ainda o risco de confundir efeito com essência: nem sempre o brilho momentâneo de uma sessão significa transformação clínica, regressão de sintomas, por isso, devemos medir, documentar e decidir à luz de evidências e de objetivos claros, não de expectativas mágicas.
A justiça aparece quando perguntamos quem tem acesso a essa tecnologia e em que condições. Quando apenas algumas instituições ou famílias podem arcar com o aparelho, o uso corre o risco de reproduzir desigualdades que já existem no cuidado. E a privacidade — ainda que o Paro pareça inocente — reclama atenção: dados, gravações e integrações digitais precisam de regras tão cuidadosas quanto as que aplicamos a qualquer outro instrumento clínico.
Por fim, a responsabilidade profissional: o robô nunca deve eximir a equipa humana do seu dever de olhar, avaliar e intervir. O Paro pode ser ponte; não pode ser ponte que se transforma em muro.
Acolher o Paro é aceitar uma promessa, a promessa de oferecer conforto e alívio diante da demência, mas ao mesmo tempo traz uma tarefa: construir salvaguardas que garantam que esses alívios são legítimos, mensuráveis e respeitosos. Se o objetivo é ampliar o cuidado, então a ética deve ser o mapa que orienta cada uso: consentimento claro, linguagem honesta, avaliação contínua, equidade de acesso e proteção dos dados. Só assim a tecnologia poderá cumprir o seu lugar mais valioso: ampliar a disponibilidade do afeto humano, sem substituí-lo.
A coabitação do Paro na realidade atual: uma reflexão crítica
Abordar sobre o futuro do cuidado não é escolher entre mão humana e máquina, é decidir como queremos que esses dois recursos se encontrem da melhor forma, como podem se complementar para oferecer uma experiência cada vez mais promissora. A tecnologia nos oferece ferramentas — respostas sensoriais, estímulos e rotinas possíveis — mas o que transforma esses recursos em cuidado de verdade é a qualidade do encontro: a escuta, o olhar atento, a intenção ética e o propósito clínico.
Quando bem utilizada, com objetivos claros, avaliação contínua e respeito pela autonomia, o Paro pode abrir janelas de afeto onde antes havia silêncio. Ele não substitui o toque que acolhe nem a palavra que acalma; expande o alcance desses gestos, cria pontes e, por vezes, devolve pequenas pausas de alívio a quem mais precisa.
Portanto, seguimos com curiosidade e responsabilidade: testando, medindo, ouvindo famílias e equipes, e lembrando sempre que a tecnologia só cumpre seu melhor papel quando fortalece vínculos humanos, em vez de reduzi-los.
Dentro do Terça da Serra temos o compromisso de buscar sempre novas informações e mecanismos para dar suporte para os nossos residentes, contamos com um time especializado na área de pesquisa, a fim de ampliar o escopo clínico do nosso trabalho com o compromisso de oferecer sempre estratégias assertivas, baseadas na evidência e com foco no bem-estar de cada um.
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