Terça da Serra

Blog Terça da Serra

Aqui você encontra as melhores dicas e notícias do grupo Terça da Serra

A perda da relevância social na velhice e seus impactos

Em muitos casos, quando as pessoas envelhecem, o sentimento inicial da perda de relevância social vem acoplado ao grande fenômeno que circunda toda a vida adulta: a aposentadoria. O fim de um ciclo de trabalho, com uma rotina estruturada e rígida, com atribuições e responsabilidades faz com que muitas pessoas, embora aliviadas da rotina, passem a se perguntar: e agora, o que é que eu faço? Não é incomum que o sentimento inicial seja de liberdade, em especial para pessoas que se viram presas em uma rotina desgastante e sem motivação, mas não demora muito tempo para que muitas dessas pessoas passem pelo fenômeno da perda da relevância social.

Hoje, no blog do Terça da Serra, nós iremos entender como esse fenômeno se caracteriza, quais são as suas causas e qual é o papel de um Residencial Sênior para combater essa realidade.

O que é a perda da “relevância social” na velhice?

De acordo com Santo Agostinho, o trabalho mais do que uma fonte de renda, mas também uma vocação que confere propósito de vida para todo trabalhador, essa é uma afirmação, diante da revolução industrial e o avanço da sociedade capitalista como a grande “identidade” do trabalhador.

Para Ricardo Antunes, em sua clássica obra “Adeus ao trabalho”, o trabalho se torna o ponto central da nossa vida adulta, a partir do fim da adolescência somos obrigados a iniciar a análise de qual será a nossa “vocação” no futuro, qual carreira irá seguir, quais cursos terá que fazer, tudo isso em busca do maior bem social hoje: o sucesso. Essa longa trajetória se amplia ao longo de toda a nossa vida, entre diferentes cargos, novas responsabilidades, não é incomum que as pessoas digam “eu SOU engenheiro” ao invés de “eu atuo/trabalho com engenharia”, pois a competência técnica, em especial universitária, faz com que as pessoas insiram na própria concepção de identidade a sua formação profissional.

Pensando nisso, quando uma pessoa finalmente se vê “livre” dessa identidade, fica a pergunta: o que é que sobra? Podemos dizer que a pessoa pode continuar se reconhecendo enquanto uma pessoa, um pai/mãe, avô/avó, um companheiro(a), um amigo(a), mas nada disso parece definir a nossa essência, nada disso hoje compete o mesmo peso que se tem de ser um profissional e é nesse ponto em que começa a perda da relevância social.

Discorrer sobre qualquer assunto enquanto um engenheiro, administrador, médico, professor oferece um local de prestígio em que se ocupa de um espaço de fala de quem vivência determinadas experiências sociais que são próprias: lecionar, construir prédios, viver e superar desafios profissionais. Quando se fala “apenas” da posição de mãe, de amigo, de avós, essa posição é inferiorizada, pois em uma sociedade capitalista regida pela busca incessante de acúmulo de riquezas, o tipo de riqueza imaterial como o vínculo possui um valor inferior.

Além disso, em uma sociedade pautada pela produtividade excessiva, o tempo de ócio é visto como um desperdício, portanto, as pessoas aposentadas são culturalmente apontadas como um “estorvo” para a seguridade social. Uma inverdade dura e cruel que coloca as pessoas que batalharam tantos anos pela sua emancipação trabalhista e pelo seu merecido descanso em um lugar de inferioridade.

Como o etarismo contribui para a perda de relevância?

Quando falamos da perda da relevância social enquanto uma pessoa fora do ambiente de trabalho, devemos levar em consideração que essa “exclusão” das pessoas não se dá apenas pela aposentadoria, embora esse seja um marco importante e um grande divisor de águas, mas dentro da lógica trabalhista o etarismo começa muito mais cedo a promover a perda da relevância social das pessoas.

Um exemplo muito claro é o mundo da moda e da estética, em 2024 o filme “A Substância”, estrelado por Demi Moore, chocou o mundo com uma estética agressiva de terror e ficção científica, pois escancara a derrocada quebra da celebridade Elisabeth Sparkle, uma apresentadora de um renomado programa de aeróbica, que foi demitida por já ter 50 anos e ser considerada “velha” para apresentar o programa. O filme retrata a pressão estética que as mulheres sofrem com um etarismo muito precoce, sempre com a pedagogia do medo de envelhecer e a importância em realizar todo tipo de procedimento estético para se manter “jovem”.

A perda da relevância social começa, em espaços de trabalho, quando o tempo de vida já não é reconhecido como acúmulo de conhecimento, mas sim como excesso de tempo dentro da empresa, além do preconceito da limitação de aprendizagem das pessoas mais velhas (o que já foi comprovado cientificamente que não é verídico). Esse fenômeno é ainda mais agressivo com pessoas com declínio cognitivo, pois passam a perder mais do que apenas a relevância social, mas também qualquer credibilidade em suas falas, e muitos passam a ser descartados como seres detentores dos próprios desejos.

No ambiente de trabalho não é incomum que o etarismo se apresente, dentro do corporativismo, como um “receio” de um funcionário que já está em idade mais madura, com um cargo mais alto, como um investimento alto demais para se manter na empresa, sempre classificado (erroneamente) como uma pessoa que não é capaz de se reinventar, apresentar novas formas de trabalhar e principalmente: não é capaz de acompanhar o avanço das tecnologias.

Um filme clássico que demonstra o quanto os ganhos intergeracionais são importantes no mercado de trabalho se chama “Um Senhor Estagiário”, filme estrelado por dois ganhadores do Oscar Anne Hathaway e Robert De Niro, onde o filme ressalta o quanto as trocas intergeracionais favorecem todos os integrantes da equipe de trabalho, oferecendo diferentes pontos de vista e ajudam no desenvolvimento pessoal de toda a equipe.

Quais são os impactos psicossociais da perda de relevância?

Quando uma pessoa perde a relevância social, os impactos têm dimensões em diversos âmbitos da vida, tanto pessoal como social. No nível pessoal o impacto inicial é na autoestima, reavaliar a vida como um todo e não se sentir pertencente dos espaços que ocupa.

Um grande exemplo é o caso da dinâmica familiar, uma pessoa que ao longo da vida foi a provedora de todos os integrantes, em uma posição de prestígio pela sua força de vontade, diante da mudança de papéis sociais, em que pode passar a necessitar da ajuda de familiares para se manter, como é por vezes o caso dos pais que necessitam da ajuda dos filhos, pode impactar diretamente a sua autoestima, a sua voz ativa na dinâmica familiar e até mesmo o enfraquecimento dos vínculos familiares.

Em outros casos pode diminuir a rede de apoio, como por exemplo pessoas que tinham como rede de apoio colegas e amigos no ambiente de trabalho, diante da saída desse espaço e novamente, com o impacto da autoestima, sentir menor interesse e menor segurança para permanecer convivendo com as mesmas pessoas, por vezes até sem encontrar outros assuntos em comum para preservar os vínculos afetivos com essas pessoas.

A convivência conjugal também pode ser diretamente afetada com a perda de relevância social em diversos casos, como a perda de um emprego ou diante da aposentadoria, onde a mudança da dinâmica da casa e dos seus integrantes exige uma mudança e uma nova adaptação, onde os envolvidos podem apresentar maior irritabilidade e menor interesse em avaliar qual é a melhor forma de conviver a partir da nova realidade.

Esses novos cenários podem causar muito mais do que apenas impacto na autoestima, mas também sintomas físicos: perda de apetite, diminuição da adesão de cuidados e tratamentos, mudanças no circuito do sono, maior irritabilidade e menor interesse em conviver com outras pessoas, além de efeitos emocionais como o aumento da ansiedade e do estado deprimido.

O papel da casa de repouso: promover convívio e resgatar relevância

Não é incomum que muitas pessoas vejam um Residencial Sênior como um espaço de abandono, afinal, foram décadas de uma longa trajetória que marcou esses espaços de forma negativa, mas que serviram de base para que hoje houvesse uma reestruturação na sua concepção. As casas de repouso, ou residenciais sênior, são espaços de acolhimento e quando falamos em “repouso”, essa concepção está diretamente ligada ao conceito dito anteriormente da recompensa pelos muitos anos de trabalho, mas o estado de “repouso” não se compara ao estado de “inércia”, onde nada acontece, apenas aguarda-se o fim dos dias.

Os residenciais sênior hoje tem uma estrutura montada para receber e cuidar de pessoas ativas, no Terça da Serra, as nossas unidades são estruturadas com diversos tipos de atividades oferecidas por uma equipe multiprofissional para trazer mais vida aos anos, não apenas assistir os anos passarem.

Desde atividades de música, exercício físico, artesanato, até atividades mais intelectuais, esses espaços são ocupados por pessoas com muita vida pela frente, com uma oportunidade única de viver com mais dignidade, consciência e o cuidado necessário.

Além disso, esse também é um espaço para conhecer outras pessoas, conviver e aumentar o círculo social, a fim de promover novas vivências e experiências interpessoais, culturais (poder planejar passeios e viagens), sem as preocupações diárias básicas (cozinhar, cuidar da própria medicação, arrumar a casa) e com total liberdade para receber família e amigos ao longo de todo o período, sem restrição, pois o Terça da Serra não é uma instituição, mas sim a casa onde as pessoas passam a viver e conviver com a sua família e com outras pessoas que escolheram se permitir serem cuidadas.

O diferencial do Terça da Serra é promover a dignidade da pessoa idosa, assim como a voz ativa dos seus residentes, a fim de que todos sejam ouvidos, respeitados e acima de tudo, cuidados.

Perder a relevância social é perder o sentido fundamental da vida. Aqui no Terça da Serra os nossos residentes encontram um espaço para resgatar a sua relevância social e ressignifica-lá para além do trabalho, mas para promover a redescoberta do seu próprio valor e reconhecer que a sua história importa para nós.

A perda da relevância social na velhice e seus impactos | Terça da Serra