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A epidemia da solidão

Em pleno 2025, o primeiro quarto do século XXI já somos assolados pela revolução arrebatadora da tecnologia, uma presença cada vez mais infiltrada no nosso cotidiano e que prometeu nos aproximar, mas só conseguiu nos afastar. Em novembro de 2023 a Organização Mundial da Saúde (OMS) declarou a solidão como uma “preocupação global de saúde pública” e lançou uma comissão internacional para estudar o problema, hoje nós iremos trazer alguns estudos sobre o tema e discutir, afinal, o que é a epidemia da solidão?

O que é a epidemia da solidão?

A solidão não é apenas a falta de companhia, é mais uma sensação persistente de desconexão, um vazio que permanece mesmo quando há pessoas por perto. Há quem esteja cercado de família e amigos e ainda assim se sinta isolado, e há quem viva sozinho e encontre sentido e companhia nas pequenas rotinas do dia a dia. Chamar o fenômeno de epidemia é reconhecer que esse sentimento deixou de ser uma experiência pessoal e privada para se tornar um problema que alcança milhões de pessoas em diferentes idades e lugares.

A tecnologia prometeu encurtar distâncias, levar vozes e imagens a qualquer hora e transformar o mundo em uma grande vizinhança, mas na prática, muitas vezes criou relações mais rasas, menos presenciais e mais imediatas, e isso muda a qualidade dos vínculos. Além disso, fatores sociais como mobilidade geográfica, famílias menos extensas e ritmos de trabalho cada vez mais individualizados contribuem para diminuir as redes de apoio tradicionais. Quando isso se soma ao envelhecimento da população e à aposentadoria, ou quando aparece junto ao luto e a perdas, o risco de que a sensação de solidão se amplifique aumenta.

A epidemia da solidão também tem um aspecto subjetivo importante, porque não basta contar o número de contatos sociais para entender o problema, o que realmente importa é a qualidade do vínculo, o sentimento de pertencimento e a percepção de que existe alguém com quem dividir as pequenas coisas e os problemas maiores, por isso muitas intervenções que focam apenas em aumentar encontros não resolvem por completo, é preciso construir relações que façam sentido para quem está sentindo.

Quando pensamos nela como problema de saúde pública ganhamos outra visão, a de que a solidão está associada a sofrimento psicológico, a maior vulnerabilidade frente a doenças e a uma queda na qualidade de vida. Isso não transforma a solidão em uma culpa individual, mas aponta para a necessidade de respostas coletivas e políticas que reorganizem espaços, serviços e rotinas para reaproximar as pessoas. Entender o que é a epidemia da solidão é o primeiro passo para não naturalizar o isolamento e para começar a desenhar ações que deem voz e lugar àqueles que se sentem desconectados.

As consequências da epidemia da solidão

A solidão corrói o cotidiano de formas que nem sempre são visíveis à primeira vista. No plano emocional ela aumenta a sensação de tristeza, amplifica a ansiedade e reduz a capacidade de lidar com o estresse. As pessoas que vivem em solidão prolongada relatam mais desesperança, perda de interesse por atividades que antes davam prazer e uma sensibilidade maior a críticas e rejeições, o que por sua vez aprofunda ainda mais o isolamento.

No corpo os efeitos também se manifestam. a solidão está relacionada a sono fragmentado, alterações de apetite e menor adesão a rotinas de cuidado como alimentação equilibrada e exercícios. com o tempo essas mudanças contribuem para aumento do risco de doenças crônicas, problemas cardiovasculares e uma resposta imunológica menos eficaz. Para muitas pessoas a solidão traduz-se em queda de energia e motivação e isso se reflete na capacidade de manter a autonomia nas tarefas diárias.

Há ainda impactos sobre a cognição: a falta de estímulo social e intelectual torna mais frágeis as funções de memória e atenção e pode acelerar processos de declínio cognitivo em quem já tem predisposição, isso não significa que toda pessoa solitária terá demência, mas a convivência reduzida e a ausência de trocas significativas somam fatores de risco que merecem atenção.

A solidão também pesa nas relações familiares e comunitárias. Quando alguém se fecha por tempo prolongado, familiares e cuidadores sofrem com o sentimento de impotência e com a carga emocional e prática de tentar restabelecer vínculos. A comunidade perde a participação e a contribuição daquela pessoa, e serviços de saúde e assistência podem ver aumento na demanda por cuidados mais intensos e custosos.

Essas consequências mostram que a solidão é um problema que atravessa a vida emocional, o corpo e a organização social, e reconhecer esses efeitos nos ajuda a entender porque a resposta precisa ser ampla, envolvendo acolhimento, suporte prático, promoção de redes e políticas que facilitem a reintegração das pessoas nos espaços de convívio.

Como reconhecer e trabalhar com a epidemia da solidão?

Reconhecer a solidão começa por observar mudanças no comportamento e no afeto que se mantêm no tempo. Pessoas que antes participavam de atividades passam a faltar com frequência, conversas ficam mais curtas e superficiais, e o interesse por hobbies ou pela rotina diminui. Às vezes o sinal é sutil, como um telefonema que não é mais devolvido, outras vezes é claro, como o descuido com a higiene ou o afastamento de redes sociais e familiares. Prestar atenção nesses sinais é o primeiro passo para agir.

Conversar com cuidado é essencial. Perguntas abertas funcionam melhor que sermões, por exemplo perguntar como a pessoa tem passado e ouvir sem interromper cria espaço para que ela fale sobre o que sente. Validar emoções e evitar minimizar o problema ajuda a reduzir a vergonha e a resistência. Pequenos gestos de empatia geram confiança e muitas vezes são suficientes para que alguém aceite uma ajuda prática, como marcar uma consulta ou participar de uma atividade em grupo.

Para trabalhar a solidão de forma efetiva é preciso combinar acolhimento com ações concretas. Criar rotinas de visita ou ligação, incentivar a participação em encontros locais e articular a pessoa com grupos que compartilhem interesses podem restabelecer vínculos significativos. Programas de visita domiciliar, horas de convivência em centros comunitários e oficinas intergeracionais mostram resultados porque promovem encontros com propósito e repetição, elementos que fortalecem laços. Reorganizar o ambiente para facilitar saídas e encontros também é uma medida prática, por exemplo combinar transporte, adaptar horários e garantir acessibilidade.

A tecnologia pode ser aliada quando usada com intenção. Videochamadas, grupos de mensagens e plataformas que conectam voluntários a quem precisa servem como ponte, mas nunca substituem o contato presencial. É importante ensinar e acompanhar o uso dessas ferramentas, especialmente para pessoas idosas que não têm familiaridade com os aparelhos. Quando bem mediada a tecnologia amplia possibilidades de convívio e de manutenção de laços que, de outra forma, se perderiam.

Profissionais de saúde, assistentes sociais e equipes de atenção primária têm papel central na identificação e no encaminhamento. Triagens simples durante consultas podem identificar risco de isolamento e ativar redes de suporte. Intervenções terapêuticas como psicoterapia e grupos de psicoeducação são indicadas quando a solidão está associada a depressão ou ao declínio funcional. Cuidadores e familiares também precisam de orientação e suporte para não se exaurirem na tentativa de resolver tudo sozinhos.

Em casos de sofrimento intenso, perda de autonomia, ideias suicidas ou declínio cognitivo acelerado é fundamental buscar ajuda imediata. Encaminhamentos para psicólogos, geriatras, terapeutas ocupacionais e serviços sociais garantem abordagem multidisciplinar. A resposta à epidemia da solidão deve ser simultaneamente pessoal e coletiva, combinando escuta, intervenções práticas e políticas que facilitem a reinserção social. Pequenos passos repetidos com cuidado têm grande impacto.

A solidão deve ser trabalhada em conjunto

A epidemia da solidão não é um destino inevitável, é um desafio coletivo que pede atenção, cuidado e persistência. Valorizar pequenos gestos torna a diferença na vida de quem se sente desconectado porque a presença regular, a escuta sem pressa e o convite sincero para participar já começam a recompor laços perdidos.

Se você se identifica com o que leu ou percebe alguém em risco comece com passos simples. Ligue, visite, convide para uma atividade ou para um passeio. Pergunte com curiosidade e ouça sem julgamentos. Essas atitudes criam oportunidades para que a pessoa aceite ajuda ou reabra canais de convívio que havia fechado.

Combinar acolhimento, ações práticas e políticas públicas é a maneira mais eficaz de transformar a epidemia em possibilidade de reencontro. Comece hoje com um gesto simples, convide alguém para estar junto e envolva outras pessoas nessa prática. Pequenos passos repetidos trazem grandes mudanças e devolvem à convivência o lugar que ela merece.

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